4 comunidades quilombolas de Cairu
- Márcio Torres
- 14 de mai.
- 5 min de leitura
As comunidades quilombolas de Cairu são parte fundamental da história e diversidade cultural dos destinos do litoral sul da Bahia. Espalhadas por diferentes pontos do arquipélago, elas conservam tradições seculares e modos de vida herdados dos povos africanos que resistiram à escravidão.
A seguir, falaremos um pouco sobre 4 das comunidades quilombolas de Cairu: Galeão, Garapuá, Torrinhas e Moreré.

1. Comunidade Quilombola de Galeão, Cairu
A comunidade de Galeão está situada ao norte do município de Cairu, na contracosta da Ilha de Tinharé, a apenas alguns quilômetros do Morro de São Paulo.
Apesar da proximidade com esse famoso destino turístico, Galeão leva uma vida modesta, baseada em atividades como a pesca, a mariscagem e o extrativismo da piaçava, práticas herdadas dos quilombos formados na Ilha de Tinharé.

Com cerca de 2.800 habitantes, Galeão tem uma população majoritariamente negra, sendo 64% de pessoas autodeclaradas negras, 31% pardas e apenas 5,6% brancas, segundo o IBGE (2010). Acredita-se que o povoado tenha origem no século XVII, com a edificação da capela de São Francisco Xavier em 1623.
Em 1833, Galeão foi elevado à condição de distrito, num esforço das autoridades para controlar a circulação de escravizados fugidos entre as ilhas e vilas da região.
Por não possuir praias e por sua posição estratégica frente ao continente, Galeão sofreu menos interferência da especulação turística ao longo dos anos.
Isso possibilitou a preservação de sua cultura, de seu ambiente natural e de sítios arqueológicos que ajudam a explicar aspectos ainda pouco conhecidos da história afro-brasileira.
Galeão segue sendo um marco importante da memória coletiva do povo negro na Bahia e merece ser valorizado por seu passado e presente de resistência.
2. Comunidade Quilombola de Garapuá

Ao sul do Morro de São Paulo, a vila de Guarapuá mantém uma atmosfera rústica e acolhedora, com ruas de terra, casas simples e um modo de vida baseado no turismo, na pesca e na hospitalidade.
O nome Garapuá, que remete à ave “Guará”, simboliza a beleza natural da região. Mas por trás da tranquilidade aparente, encontra-se uma comunidade com raízes profundas nas culturas indígena e afro-brasileira, marcadas por práticas ancestrais e tradições também herdadas de antigos quilombos.
Garapuá é um lugar onde o tempo parece passar devagar. A praia, com cerca de dois quilômetros de extensão, é cercada por coqueirais e banhada por águas claras e tranquilas, formando cenários de cartão postal. As piscinas naturais e o bar flutuante são grandes atrativos, mas é no contato com os moradores e na simplicidade da vida local que se revela a verdadeira alma da vila.

Conversar com os pescadores, provar a moqueca ou uma cocada caseira são experiências que conectam o visitante com a história viva do lugar.
Garapuá guarda saberes e tradições que remontam aos tempos de resistência negra no arquipélago. A presença de famílias que há gerações vivem da pesca e da coleta de mariscos, bem como a memória oral transmitida entre os mais velhos, são indícios do elo profundo entre o território e sua herança africana.
Nesse contexto, Garapuá se destaca entre as comunidades quilombolas de Cairu, preservando uma identidade cultural marcada pela força da ancestralidade, pelas tradições afro-brasileiras e por um modo de vida em harmonia com a natureza.
3. Comunidade Quilombola de Torrinhas

Localizada ao sul da ilha onde fica a sede do município, Torrinhas é uma das comunidades quilombolas de Cairu que mantêm vivas as raízes africanas de seus ancestrais. Com cerca de 300 pessoas distribuídas em 106 famílias, sua história está diretamente ligada aos quilombos de Jatimane e Boitaraca, de onde vieram muitos de seus primeiros habitantes.
Um dos principais nomes da memória local é o de Dona Bernardina, que narrou a trajetória de sua família desde os quilombos até a Fazenda Pau Seco, onde viveram e trabalharam sob o regime da piaçava. Torrinhas se estruturou ao redor dessa relação entre trabalho, resistência e ancestralidade.
Mesmo com o avanço turístico das últimas décadas, a comunidade continua a se sustentar por meio da pesca, mariscagem, extração da piaçava e do dendê. Mas também aproveita o fluxo turístico para faturar através do transporte marítimo que leva até Boipeba, já que seu atracadouro é o mais próximo da ilha.

Em 2006, Torrinhas conquistou a certificação como comunidade quilombola, um passo importante no resgate de sua identidade. A partir desse processo, os moradores passaram a revisitar sua história, reconhecendo com orgulho suas raízes negras e a contribuição dos antepassados para a formação do povoado.
Embora hoje a religião evangélica seja predominante, aspectos da cultura popular ainda sobrevivem, como a queima da palha em 6 de janeiro e a celebração de Santa Bárbara, padroeira local. Apesar da resistência ao candomblé por parte de alguns moradores, o passado de Torrinhas revela uma rica vivência afrodescendente.
Essa comunidade quilombola de Cairu exemplifica como o reconhecimento oficial pode fortalecer o resgate da identidade e a valorização da memória ancestral.
4. Comunidade Quilombola de Moreré, Cairu

Situada na costa de Boipeba, a vila de Moreré possui uma comunidade oficialmente reconhecida como remanescente de quilombo, título dado recentemente pela Fundação Cultural Palmares.
Esse reconhecimento garante à vila o acesso a políticas públicas específicas e à possibilidade de titulação das terras tradicionalmente ocupadas, um passo importante na reparação histórica com a população quilombola do Brasil.
Com o nome originado do tupi “Moreré”, que significa “acará-disco”, um peixe típico da região, a vila possui profunda conexão com a natureza e também com sua ancestralidade indígena. O ambiente exala simplicidade, com ruas de areia, casas rústicas e modos de vida tradicionais preservados ao longo de gerações.

A certificação quilombola de Moreré reforça sua importância cultural e histórica dentro das comunidades quilombolas de Cairu, valorizando os costumes de seus habitantes e a resistência que manteve vivas tradições mesmo diante do avanço do turismo na ilha.
Apesar de pequena, Moreré é acolhedora e funcional, oferecendo mercadinhos, restaurantes que servem comida baiana e natural (incluindo opções veganas e vegetarianas) e hospedagens charmosas, muitas à beira-mar.
Para quem visita Boipeba, passar uma noite em Moreré é uma oportunidade de vivenciar a riqueza de um local que oferece belezas naturais deslumbrantes, hospitalidade e uma história agora reconhecida.
Conhecer Moreré é mergulhar em uma calmaria difícil de encontrar nos dias de hoje, e também vivenciar essa cultura quilombola que ainda vive em cada detalhe do dia a dia da vila.
Para quem deseja explorar com profundidade a riqueza cultural da região, conheça a comunidade quilombola Monte Alegre, que é tão rica em cultura e história quanto Moreré e descubra de perto o que significa ser quilombola, a importância dessa herança e como incluir essa experiência no roteiro da sua viagem.
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